PERO GARCIA BURGALÊS
( Portugal )
Pero Garcia Burgalês foi um poeta trovador nascido em Burgos, Espanha. Frequentou a corte de Afonso X, rei de Castela e Leão de onde Burgalês provinha, portanto, o escritor possuía origem castelhana. Provavelmente também conviveu com a corte de D. Afonso III, em Portugal, onde teria mantido relações com os trovadores Lourenço e Rui Queimado, considerado seu rival, chegando a escrever uma cantiga de escárnio para ele: Roi Queimado morreu con amor.
Obra
Vasta e variada, a obra de Pero Garcia Burgalês é composta por cinquenta e três composições: trinta e cinco cantigas de amor, duas de amigo, treze cantigas de escárnio e maldizer, uma sátira literária, um partimen (tenção fictícia) e uma tenção[nota 1] escrita de parceria com o jogral Lourenço, esta última de autoria duvidosa.
Seu estilo caracteriza-se por uma tendência para o excesso e a desmesura. Não hesita em colocar palavras brutais e obscenas, e até mesmo algumas mais insólitas (neologismos, arcaísmos, provençalismos). Utilizava com habilidade da retórica e no uso da ironia, inovando o gênero da cantiga de amor dando a ele mais vivacidade. Não foi à toa que as cantigas de amor receberam-lhe sua preferência.
Suas sátiras ganham como alvos sobretudo trovadores, jograis, soldadeiras (Maria Peres Balteira e Maria Negra), além de magistrados, que não escaparam à acusação de serem avarentos ou pederastas.
Notas
composição poética constituída por um diálogo ou discussão entre dois trovadores.
Fonte: wikipedia.
TROVAS
(9)
Mentre non soube por min mia senhor,
amigos, ca lhe quería gran ben,
de a veer non lhe pesava én,
nen lhe pesava dizer-lhe "senhor".
Mais alguén foi que lhe disse por min
ca lhe quería gran ben, e des i
me quis gran mal, e non mi ar quis veer.
Confonda Deu-lo que lho foi dizer!
De me matar fezera mui melhor
quen lhe disse ca lh'eu quería ben,
e de meu mal non lhe pesava én,
e fezera de me matar melhor,
ca, meus amigos, des que a non vi,
desejo morte que sempre temí,
e hei tan gran coita po-la veer
qual non posso, amigos, nen sei dizer.
A esta coita nunca eu vi par,
ca esta coita peor ca mort'é,
e por én sei eu ben, per bõa fe,
que non fez Deus a esta coita par,
ca pero vej'u é mia senhor, non
ous'ir veé-la, si Deus me perdón,
e non poss'end'o coraçón partir,
nen os olhos, mais non ous'alá ir.
E quand'a terra vej'e o logar,
e vej'as casas u mia senhor é,
vedes que fac'entón, per bõa fe:
pero mi as casas vej'e o logar,
non ous'ir i, e peç'a Deus entón
mia morte muit'e mui de coraçón,
e choro muit'e hei-m'end'a partir,
e non vou i, nen sei pera u ir!
PB 32 (CA 110)
(10)
Ai, eu coitad´! e por que vi
a dona por meu mal vi!
Ca Deus lo sabe, polla vi,
nunca já mais prazer ar vi,
per boa fé, u a nom vi,
tam bôa dona nunca vi.
Tam comprida de todo bem,
per bôa fé, esto sei bem,
se Nostro Senhor me dê bem
dela! que eu quero gram bem,
por bôa fé, non por meu bem!
Ca pero que lh´eu quero bem,
non sabe ca lhe quero bem.
Ca lho nego pola veer,
pero nona posso veer!
Mais Deus, que mi a fezo veer,
rogu´eu que mi a faça veer;
e se mi a nom fazer veer,
sei bem que non posso veer
prazer nunca sem a veer.
Ca lhe quero melhor ca mim,
pero non o sabe per mim,
a que eu vi por mal de mi[m].
Nem ouve já, mentir´eu o sen
houver; mais jse perder o sen,
direi[i]-o com míngua de sen;
Ca vedes que ouço dizer
que míngua de sem faz dizer
a home o que non que dizer!
PB 6 (CA 87)
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Página publicada em janeiro de 2023
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